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O maior desafio de Bendine na Petrobras


O primeiro e maior desafio da nova diretoria da Petrobras é apresentar um balanço auditado e crível do resultado do terceiro trimestre de 2014. Não vai ser nada fácil e a principal razão está no volume de baixas de ativos promovido pela diretoria anterior - R$ 88,6 bilhões. Esse seria o total de ativos superavaliados, que sofreram baixa contábil naquele balanço.

Muito provavelmente, a ex-presidente Graça Foster e seus diretores decidiram ser ultraconservadores, na confecção do balanço, por uma razão muito simples: eles quiseram dizer à sociedade brasileira, acionista majoritária da estatal, que nada têm a ver com a roubalheira que se fez por lá nos últimos anos. Possivelmente, sabiam que a decisão tornaria insustentável sua permanência na empresa.

Diante daquele que já é considerado o maior escândalo de corrupção da história do país, Graça e outros diretores radicalizaram nas estimativas do que supostamente decorreu de malfeitorias, ineficiências (ou mesmo de ineficiências decorrentes de delitos) e de questões como a queda brusca do preço do petróleo e a valorização do dólar. O problema é que, na opinião de especialistas, eles exageraram e o fizeram lançando mão de metodologias erradas, em que pese o fato de terem recorrido à ajuda da firma de auditoria Deloitte e do banco BNP Paribas.

Empresa de auditoria disse a executivo que 88,6 bi estão errados

Na semana passada, uma multinacional do ramo de auditoria assegurou de forma categórica ao novo presidente da Petrobras, Aldemir Bendine, que a metodologia usada pela ex-diretoria nos testes de imparidade (ou "impairment"), para calcular os ativos que teriam perdido valor nos últimos anos, está "errada". Os testes de imparidade são aplicados para avaliar se o valor de um ativo é inferior ao seu valor escriturado ou contábil.

Bendine tem um desafio gigantesco pela frente: com a nova diretoria, terá que aplicar novamente os testes de imparidade, chegar a números realistas e críveis, ter o balanço auditado pela PricewaterhouseCoopers (PwC) e convencer a sociedade de que os ativos que sofreram baixa contábil, avaliados agora num valor bem inferior aos R$ 88,6 bilhões, não serão reduzidos por motivação política, mas por razões técnicas.

A tarefa também não é um passeio no parque porque as investigações sobre os desvios na Petrobras ainda estão em curso - ao anunciar os números, Graça Foster afirmou que o número das baixas ainda poderia crescer. Corre-se contra o relógio porque, se o balanço auditado não for publicado até o fim de junho, credores poderão reivindicar a aceleração do prazo de vencimento de dívidas, no total de US$ 56,7 bilhões, montante que supera com folga o que a estatal dispõe em caixa.

Os testes de imparidade são feitos regularmente em projetos de investimento - a Petrobras, como se sabe, possuía até pouco tempo atrás o maior plano de negócios do planeta. Com esses testes, feitos com alguma regularidade, as empresas verificam se uma unidade geradora de caixa atende às premissas estabelecidas no momento do investimento. "A partir daí, projeto as receitas de acordo com a realidade daquele momento e trago a valor presente essa projeção e comparo com o investimento", explicou uma fonte.

Pelos padrões mais modernos de contabilidade, aplicados os testes de imparidade, os ativos que se valorizam não são contabilizados no balanço. Já os ativos que perdem valor, com uma margem expressiva que fuja muito da premissa original do projeto, obrigatoriamente sofrem baixa contábil. "A partir do momento em que você dá baixa, mesmo que a realidade mude dali para frente, você não consegue valorizar o ativo de novo", disse a mesma fonte.

Em tese, o teste de imparidade deve ser feito para unidades geradoras de caixa. Os testes aplicados recentemente na Petrobras consideraram equipamentos (ativos) isoladamente. Por exemplo: avaliou-se um filtro utilizado numa refinaria em vez da própria refinaria, a unidade geradora de caixa. "Um filtro não gera caixa", diz um técnico.

Outro equívoco cometido no cálculo dos ativos foi ter ignorado possíveis sinergias existentes entre as diferentes unidades geradoras de caixa da Petrobras. A estatal está presente em várias etapas da cadeia produtiva do petróleo e em variados negócios. Nos cálculos que encontraram R$ 88,6 bilhões em ativos superavaliados, avaliaram-se ativos isoladamente, sem levar isso em consideração.

Governo vai trocar seis dos dez conselheiros da Petrobras

O governo vai trocar seis dos dez conselheiros da Petrobras. A ideia é nomear profissionais de reconhecida competência para substituir os atuais conselheiros, de preferência com conhecimento do setor de petróleo e gás. Não haverá espaço, assegura um assessor, para nomeações políticas.

O plano também é diminuir a presença de ministros no conselho. Hoje, há vagas para dois ministros: o da Fazenda e o de Minas e Energia. Com a mudança de mandato da presidente da República, Guido Mantega permaneceu no conselho como representante da Fazenda, presidindo-o, e Márcio Zimmerman, pelo Ministério de Minas e Energia. Ambos deixarão o conselho.

É possível manter-se pelo menos um ministro no conselho de administração, para facilitar o diálogo com o governo daqui em diante. Mas, para a presidência do conselho, a ideia é nomear um "chairman", à moda americana: um conhecedor do setor que se dedique à empresa.

Bendine quer replicar em estatal modelo bem-sucedido do BB

No comando do Banco do Brasil (BB), Aldemir Bendine, com a ajuda crucial de três técnicos de excelente reputação - Paulo Caffarelli, Alexandre Abreu e Ivan Monteiro -, procurou gerar valor para a instituição. O objetivo era preparar o BB para Basileia 3, cujas regras de capital são mais estritas que as atuais.

Bendine e o trio identificaram, dentro do banco, o que poderia ganhar valor se tivesse sócios privados em estruturas que funcionassem sem as amarras de uma estatal. Surgiram, a partir daí, gigantes bem-sucedidas como a BB Seguridade e a Cielo. Não se tenha dúvida: Bendine e Monteiro vão perseguir o mesmo objetivo na Petrobras.

Fonte: Valor Econômico