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Geólogos contestam argumentos da Petrobras para venda de Carcará


A decisão da Petrobras de vender a área de Carcará por US$ 2,5 bilhões para a norueguesa Statoil está movimentando entidades ligadas ao setor de óleo e gás, que alegam que o negócio não será vantajoso para a estatal e nem para o País. A Federação Brasileira de Geólogos (Fegrageo) está capitaneando um plano de acionar a Justiça para contestar a venda do ativo e, para isso, está esperando respostas de entidades interessadas em entrar como parceiras na ação, como o caso da Federação Nacional de Engenheiros (FNE). Enquanto isso, a entidade já planeja quais argumentos pretende usar na batalha judicial. De acordo com o coordenador do grupo de trabalho da Febrageo para assuntos de petróleo, Luciano Seixas Chagas (foto), os volumes de petróleo em Carcará são muito maiores dos que os anunciados na venda do ativo. “Ainda com base nas demais informações de pressão e posição do contato óleo/água da acumulação de Carcará, é possível que só na sua estrutura estejam acumulados 6 bilhões de barris recuperáveis de óleo e gás equivalente. Isso somente no bloco BM-S-8″, afirmou. Ele também contesta alguns dos argumentos apresentados pelo presidente da Petrobras, Pedro Parente, que justificou a venda de Carcará por causa da elevada pressão do campo. “Com as suas elevadas pressões, os reservatórios de Carcará produzirão por muito mais tempo, tornando o projeto de implantação ainda mais econômico. Os fluidos nos dutos naturalmente pressurizados podem ainda ser injetados nos reservatórios das vizinhanças, que têm pressões normais, auxiliando-os com uma energia extra adicionada“, disse Chagas.

Quais argumentos serão usados pela Febrageo na contestação da venda da área de Carcará?

Como a Febrageo, muitas outras entidades manifestaram interesse de participar, conjuntamente, da ação de contestação. Assim estamos organizando todos os conteúdos, os pensamentos e as atitudes a serem tomadas coletivamente e, depois, faremos nossa apresentação de modo prolixo, organizado, racional e com base Jurídica, de modo que toda a sociedade compreenda quais os motivos que nos levaram a tomar tal iniciativa e quais serão os danos reais que isso fará a Petrobrás, ao País, e ao nosso futuro como nação.

Os argumentos, primeiro, serão  absolutamente negociais, mostrando quão e como o patrimônio da nação está sendo vendido a preço aviltado. O segundo, com as contestações mais importantes, servirá para mostrar a todos como os ativos e bens estratégicos estão sendo tratados. Iludem a todos dizendo que, hoje, após o negócio consumado, a Petrobras e a nação ficarão financeiramente e substantivamente saneadas, o que é, ao nosso ver, um engano e um absoluto engodo, infelizmente, que comprometerá o amanhã do País e da empresa. Mostraremos como o negocial e o estratégico, ambos desastrosos, causarão danos irreparáveis a nação.

Por que a entidade está questionando o valor de venda da área (2,5 bilhões de dólares)?

Com base na área delimitada pelos 3 poços perfurados no Bloco BM-S-8, os volumes de cerca de 1,3 bilhões de barris divulgados e negociados são absolutamente reais o que, numa conta aparente, simples, apressada, ou feita por pessoas simplórias, parece ser um bom negócio, principalmente dentro da ótica de financistas como o senhor Ivan Monteiro, atual diretor financeiro da Petrobrás, conforme ele afirmou na mídia: “Um excelente negócio”. Qual é, afinal, o negócio excelente? As diretorias técnicas da empresa, principalmente a da área de exploração comandada pela engenheira de reservatórios, a senhora Solange Guedes, sabem que os números são bem maiores, com base nas seguintes constatações: primeiro, nenhum dos três poços atingiu o contato óleo/água, que denuncia ser área da acumulação muito maior que a delimitada pelos três poços. Esta é a mais elementar análise técnica. A área delimitada pelo poço é a mínima possível e encerra, apenas, os volumes provados ou as reservas sem quaisquer riscos exploratórios.

Além disso, o gráfico de pressão plotando o gradiente do petróleo dos 3 poços, junto com o gradiente da água salina, demonstra que a primeira assertiva é verdadeira, ou seja, a de que a área do reservatório é muito maior que a limitada pelos poços perfurados. Os testes de interferência realizados mostram que os reservatórios são comunicados e têm, portanto, continuidade hidráulica, com comunicação via espaço inter poros e fraturas, sendo essas abundantes na área de Carcará. Além disso e, positivamente, os fluidos oriundos do manto profundo, aumentaram, via dissolução, o sistema poroso original. Como consequência, os volumes porosos já elevados de Carcará, por unidades de área, tornaram-se os maiores da bacia de Santos, pois além de poros serem aumentados, também foram criadas porosidades de fraturas, o que corrobora o raciocínio de que os volumes, mesmo os agora calculados,  são muito maiores que os aqui apresentados e os negociados.

Levando em consideração as estimativas de reservas de Carcará, o valor de venda anunciado foi vantajoso?

As reservas mínimas, negociais, seriam de 2 bilhões de barris, um excelente negócio, certamente, para quem comprou o ativo e também para os senhores Pedro Parente, Ivan Monteiro, Solange Guedes e de toda a diretoria e do Conselho de Administração da Petrobrás, que deram o aval para o negócio. Uma visão financista de trocar um valoroso ativo, por apenas 2,5 % a 4% da dívida total da Petrobras, a depender do valor do dólar, que oscila nos ventos da especulação cambial. Ainda com base nas demais informações de pressão e posição do contato óleo/água da acumulação de Carcará, é possível que só na sua estrutura estejam acumulados 6 bilhões de barris recuperáveis de óleo e gás equivalente. Isso somente no bloco BM-S-8. O volume extra de 4 bilhões de barris prováveis e possíveis, por serem ainda duvidosos, quase especulativos, deve ter algum valor negocial, mesmo que ainda pequeno.

O presidente da Petrobras disse que Carcará possui características que não seriam interessantes, como uma elevadíssima pressão e distância de outros campos da estatal. Qual sua opinião sobre isso?

Face aos imensos volumes recuperáveis existentes nos polos atuais e em Carcará, os dutos agora projetados e em execução serão insuficientes para transportar o imenso volume a ser produzido. Portanto, a alegada grande distância entre os dois projetos é falaciosa, pois os novos dutos mais caros e que suportariam elevadas pressões podem ser projetados com maior capacidade de transporte (vazões com pressurização natural) e de poder comunicar os dois polos principais, além de outros menores. Os dutos teriam mais resistência às elevadas pressões, são de tecnologia dominada pelo mercado, não sendo necessárias novas pesquisas e, tão somente, adaptações e obviamente implantação com um preço maior que o do sistema atual.

Dizer que serão gerados custos adicionais devido a modificação do sistema de produção/escoamento/infraestrutura etc., em implantação, é pelo menos uma assertiva açodada. O que a princípio parece verdade pode ser justamente o contrário, pois o petróleo do polo Carcará tem pressão muito elevada (50% superior aos das amplas redondezas), baixa densidade e alta mobilidade, não tem  CO2 e tampouco o H2S corrosivos , o óleo é leve e tem elevada razão de solubilidade. Isto significa que há muito gás em solução que será produzido conjuntamente com o óleo. Assim, o projeto futuro, incluindo Carcará, usaria poços verticais ou inclinados, muito mais baratos que os horizontais, que serão perfurados com equipamentos mais especializados. Se por um lado, os equipamentos de perfuração e completação dos poços serão mais caros, por outro, a drenagem dos reservatórios de Carcará se fará com poços verticais, face a grande espessura dos reservatórios.

Com as suas elevadas pressões, os reservatórios de Carcará produzirão por muito mais tempo, tornando o projeto de implantação ainda mais econômico. Os fluidos nos dutos naturalmente pressurizados podem ainda ser injetados nos reservatórios das vizinhanças, que têm pressões normais auxiliando-os com uma energia extra adicionada. Os FPSOs com capacidade de processar 150 mil barris/dia para cada 3 ou 4 poços produtores de Carcará, face as elevadas vazões iniciais de cada poço, garantirão, maiores platôs temporais de produção máxima e, por consequência, os projetos teriam grande antecipação dos retornos de investimentos e de caixa elevado.

Qual será a estratégia para tentar reverter na Justiça a venda de Carcará?

A nossa estratégia é a união das forças contrárias a venda. Primeiro, questionando a Petrobrás se a venda do ativo Carcará, um dos seus melhores portfólios, é benéfica. Vale a pena diminuir agora, no máximo 4% da dívida da empresa, abrindo mão de um bom ativo como Carcará que será a força motriz do futuro da companhia? Vale a pena vender ativos tão depreciados agora num momento de retração econômica e de preço baixo do petróleo?

Além disso, vamos questionar porque o governo não capitaliza a Petrobras, usando o excesso das nossas reservas cambiais, conforme sugerido por diversos gestores econômicos do governo atual e da oposição? O Estado mínimo vale mais que a proteção da maior companhia brasileira com fins mantenedores da soberania nacional? Por que não agem como os gestores das maiores economias mundiais, que protegem as suas maiores empresas? Qual a necessidade de modificar o modelo de partilha?

Fonte: Petronotícias