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Brasil está voltando a figurar no radar investimentos, inclusive no petróleo


Advogado especializado na área de petróleo, Ivan Tauil passou os dois últimos anos sem conseguir inserir o tema Brasil em qualquer dos congressos, simpósios e fóruns internacionais que participa habitualmente, por necessidade profissional. Crises política e econômica simultâneas afastaram o país do radar dos investidores, em especial no segmento de óleo e gás. Um dos clientes do escritório de Tauil chegou a dizer que arrumaria as malas e nunca mais apareceria por aqui. Arroubo de momento, pois, embora a economia brasileira tenha passado por uma recessão mais profunda do que se podia esperar — em grande parte pelo agravamento da crise política — nenhum empresário deve desconsiderar o mercado doméstico brasileiro, seja no presente ou no longo prazo.

Na percepção de Tauil a fase do ostracismo está terminando. A crise política se deslocou para um segundo plano e os sinais tímidos de recuperação da economia brasileira começaram a ser percebido pelo farol desses investidores. O Brasil será um dos assuntos de destaque da edição de setembro da revista “The American Lawyer”, preparada para o encontro anual de especialistas em direito, que será realizado em Washington.

A agenda positiva do Congresso vem contribuindo para isso. Com a mudança nas regras de exploração do pré-sal, que retiram a obrigatoriedade de a Petrobras ser operadora única e parceira compulsória do consórcio vencedor das licitações, tornando esses quesitos opcionais (de acordo com os interesses da estatal), grandes atores do mercado de petróleo, que haviam se retraído nas rodadas anteriores, já estão se mexendo na expectativa do edital que a agência reguladora, a ANP, está costurando.

Os problemas não estão resolvidos. Falta o Senado pôr um ponto final na novela do impeachment para que o governo em exercício possa encaminhar ao Congresso as propostas de reforma da Previdência Social. A que estabelece um teto para os gastos públicos já está lá. Caberá ao próprio Congresso promover uma reforma política que ao menos contribua para dar um basta no festival de partidos que desorienta o eleitorado em vez de fortalecer a democracia.

O prefeito Eduardo Paes se sente frustrado porque esperava que a Olimpíada fosse realizada em um momento de prosperidade do Brasil. Porém, diante das circunstâncias que envolvem a conjuntura internacional, os jogos virão em boa hora, pois coincidirão com esse novo despertar dos interesses dos investidores pelo que está acontecendo no país.

No lugar do temor de que tudo iria parar após a Olimpíada, o que vamos ter é uma injeção de ânimo.

Piração

Ainda que o Congresso venha dando seguidas demonstrações de que está botando a cabeça no lugar, é preciso ter atenção a certas iniciativas legislativas — ou que têm origem no próprio executivo — que fazem o país andar para trás. Uma delas envolve o Código Florestal e nada tem a ver com o zoneamento agrícola, atingindo empreendimentos imobiliários em áreas consagradas de expansão urbana. Partidos políticos arguíram junto ao Supremo Tribunal Federal a inconstitucionalidade do novo Código, alegando o princípio de proibição por retrocesso, e por tabela podem atingir as cidades, que terão seus planos diretores questionados. Para evitar isso, os sindicatos de habitação entraram com uma petição, por meio do advogado Marcos Saes, cujo escritório é especialista em direito ambiental, elencando os argumentos que justificam o Código Florestal e a não interferência nas leis municipais relativas ao zoneamento urbano. Por incrível que pareça, são as cidades se movimentando em defesa do Código. O ministro Luiz Fux, do Supremo, julgará agora em agosto essas ações.

Empurrão

Carauari é um município às margens do Rio Juruá, com cerca de 26 mil habitantes. Fica a quatro dias de barco de Manaus. Empresas como Natura e Coca Cola se juntaram para apoiar projetos de sustentabilidade lá, especialmente em torno do açaí. Depois de extraído, o açaí precisa ser processado em 24 horas para que não se deteriore. Mas, além da unidade de beneficiamento, executivo da Natura, oriundo na área de telecomunicações, conseguiu convencer uma operadora a instalar mais uma antena na região. O investimento era de R$ 100 mil e a empresa relutava, não acreditando que pudesse obter retorno. Acabou cedendo à pressão e o resultado foi surpreendente. A demanda pelos serviços corresponde a duas vezes e meia a média nacional da mesma operadora. No isolamento amazônico, a demanda por serviços de telecomunicações é exponencial, principalmente quando há uma atividade econômica que necessita deles para decolar.

De escada

As taxas de juros no Brasil sobem de elevador e descem de escada. A observação foi feita certa vez pelo economista José Júlio Senna. Então, paciência. Vamos esperar que em outubro o BC comece a baixar os juros, de modo que possam passar da categoria de “excessivos” para a de “altos”.

Fonte: O Globo - George Vidor