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Parceiros indianos da Petrobras lutam contra atrasos em SE


Rio de Janeiro/Nova Délhi - A Petrobras alertou seus parceiros indianos em um grande projeto marítimo que não esperem produção de petróleo no local até 2022, de acordo com fontes, em um novo sinal de como os preços baixos da commodity, o escândalo de corrupção envolvendo a estatal e suas enormes dívidas estão prejudicando o setor de energia do Brasil.

O atraso de quatro anos, que não havia sido noticiado anteriormente, em uma gigante descoberta na costa de Sergipe está forçando a indiana Oil and Natural Gas Corp (ONGC) e a IBV Brasil Petroleo a buscarem novas maneiras de acelerar o projeto liderado pela Petrobras, que já custou 2,1 bilhões de dólares a elas, sem nenhum retorno em vista.

O atraso e a pressão dos parceiros indianos são apenas alguns dos muitos desafios do novo presidente da Petrobras, Pedro Parente, nomeado pelo presidente interino Michel Temer no fim de maio, em meio à atual crise financeira.

Devido a um enorme escândalo de corrupção e propina e a dívidas de 126 bilhões de dólares da Petrobras, Parente se comprometeu a administrar a empresa de maneira mais amigável ao mercado, mas não quis comentar sobre projetos individuais.

Ele também prometeu para até o fim de outubro uma revisão do plano de investimentos, embora não esteja claro se isso solucionará o impasse na costa de Sergipe.

Em abril, a Petrobras disse à IBV, uma joint venture em partes iguais entre a estatal Bharat Petroleum Corp e a empresa privada Videocon Industries Inc, que não haverá produção de petróleo em Sergipe "até pelo menos 2022", disse um executivo da IBV à Reuters. Um ano atrás, a Petrobras prometeu a primeira extração de petróleo para 2018.

Na esperança de acelerar o desenvolvimento, a IBV disse à Reuters que havia se oferecido para conseguir 10 bilhões de dólares em empréstimos de bancos de desenvolvimento da Índia e internacionais para financiar o projeto de Sergipe --a principal área de prospecção de petróleo do Brasil fora da região do pré-sal próxima ao Rio de Janeiro, na qual o Brasil está depositando suas esperanças de independência energética.

"É uma estrutura de empréstimos comum e simples, se a Petrobras está desejando fornecer produção futura como garantia, não terá que pagar um centavo até que o petróleo comece a fluir, algo que nós talvez poderíamos fazer em 2020", disse o executivo da IBV.

"Mas nós temos a sensação que a Petrobras ainda tem que aceitar suas novas circunstâncias mais restritas", disse o executivo.

A Petrobras disse à Reuters que ainda tem que receber uma proposta de suas parceiras indianas para financiar o projeto.

Questionada sobre o atraso, a Petrobras disse em comunicado que investiu cerca de 3,5 bilhões de dólares na exploração dos blocos de Sergipe que possui com a ONGC e a IBV.

A estatal espera concluir um plano de desenvolvimento para áreas até 2020, mas não tem data para a primeira produção de petróleo.

Todas as decisões de desenvolvimento foram feitas em conjunto com suas parceiras, disse a Petrobras, e os atrasos foram resultado de desafios técnicos "consideráveis" em águas profundas, esforços para reduzir custos e falta de infraestrutura para transportar o gás natural da área.

Após terem investido 2,1 bilhões de dólares nas descobertas marítimas desde 2007, os indianos estão ficando impacientes.

"Nós não podemos adiar um retorno para sempre", disse o executivo da IBV, cuja empresa investiu 1,6 bilhão de dólares em Sergipe. "Nós estamos investindo há quase uma década. Eles agora dizem que nós temos que esperar mais quatro anos. Em nossa experiência com a Petrobras, isso provavelmente demorará mais."

Um executivo da ONGC, que também não quis ser identificado, disse que os parceiros esperam que o novo regime de Parente acelere os planos de desenvolvimento "então nós poderemos monetarizar e desbloquear o potencial o mais rápido possível."

A empresa decidiu recentemente abandonar sua parcela em uma das duas áreas de produção propostas no bloco de Sergipe, em que possui um quarto, para a parceira Petrobras.

Culpa compartilhada

Em nove anos, a ONGC investiu 500 milhões de dólares explorando a costa de Sergipe com a Petrobras. A empresa gastou mais 2 bilhões de dólares em outros locais no Brasil e produz cerca de 12 mil barris por dia no país, uma pequena quantia considerando o desembolso até o momento.

O prêmio esperado, no entanto, é Sergipe. O bloco BM-SEAL-11, que é 40 por cento controlado pela IBV, contém mais de 3 bilhões de barris de petróleo e equivalentes de gás natural, o suficiente para suprir todas as necessidades de petróleo do mundo por mais de um mês.

Não há estimativa pública para os dois blocos adjacentes, um de posse total da Petrobras e outro no qual a ONGC possui 25 por cento, mas as pessoas envolvidas com eles dizem que os volumes de petróleo e gás são muito grandes.

Os problemas do projeto de Sergipe também foram agravados pelas próprias falhas da IBV e da ONGC. Duas fontes envolvidas com os indianos na exploração em Sergipe disseram que a IBV e a ONGC frequentemente perderam prazos para pagar sua parcela de custos, pagando somente após a Petrobras ameaçá-los com ações judiciais.

Os indianos confirmaram os atrasos, e disseram que a culpa foi da parceira Videocon, que têm problemas de fluxo de caixa e pode vender sua parcela na IBV. Os executivos da Videocon não estavam disponíveis para comentários.

O presidente do conselho da Videocon, Venugopal Dhoot, disse ao jornal Standard Newspaper em junho que sua empresa estava considerando a venda de todos os ativos de petróleo e gás para pagar dívidas.

A IBV e a ONGC também não quiseram evocar cláusulas no contrato dos blocos que permitiriam que prosseguissem com o desenvolvimento por si próprias se a Petrobras hesitasse.

"Infelizmente, todos no Brasil têm medo de desafiar a Petrobras, mesmo se tiverem razão. Eles conhecem a Petrobras e talvez o governo retalie", disse o geólogo John Forman, ex-diretor da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis.

"Batalhas judiciais podem se arrastar por anos, então você perde mesmo se ganhar."

Quaisquer que sejam os motivos do atraso, o Brasil pode ser o maior perdedor. Enquanto ONGC e IBV compraram suas parcelas em Sergipe em 2007, das concessionárias Petrobras e Encana, a ANP permitiu que a Petrobras adie o início da produção ao prorrogar os direitos de exploração das áreas repetidamente.

Se a ANP tivesse garantido prazos mais apertados, projetados para evitar que as empresas acumulem ativos sem desenvolvê-los, Sergipe poderia já estar produzindo, ou pelo menos perto da primeira produção, e fornecendo receita para os combalidos cofres federais, disse Forman.

Ele disse que a tendência de dar à Petrobras tamanha liberdade ressalta o conflito de prioridades do Brasil, em um momento em que o país tenta reanimar sua economia e sua maior empresa.

"No Brasil nós dizemos que 'o petróleo é nosso', que pertence ao povo. Na realidade, nós agimos como se pertencesse à Petrobras", ele disse.

Fonte: Exame