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Reino Unido concede empréstimo de US$ 500 milhões à Petrobras


REINO UNIDO — O Governo do Reino Unido irá fornecer um grande apoio financeiro à principal companhia petrolífera brasileira, embora esta enfrente investigações por corrupção em vários países. A Whitehall está finalizando um crédito de estimado em US$ 500 milhões à Petrobras, um acordo de exportação financeiro que ajudará a desenvolver os projetos de exploração de petróleo e gás em águas profundas offshore do Brasil.

A decisão surge no momento em que a Petrobras está envolvida em um escândalo de lavagem de dinheiro e suborno multibilionário que envolveu a empresa, empreiteiras contratadas e políticos brasileiros.

Nos últimos meses, as investigações ao escândalo da Petrobas se intensificaram e se espalharam além do Brasil, chegando à Suíça e aos Estados Unidos. Os investigadores do Departamento de Justiça dos Estados Unidos (DoJ) abriram uma investigação criminal para determinar se os funcionários da Petrobras, as empreiteiras ou os intermediários estavam envolvidos no extenso esquema de suborno.

A agência de crédito à exportação do Reino Unido, a UKEF, declarou que vai estender a linha de crédito à Petrobras para que esta possa comprar bens e serviços aos exportadores do Reino Unido. A UKEF ajuda frequentemente a financiar grandes projetos de exploração de petróleo e de gás em todo o mundo, apesar das promessas do Governo de acabar com este tipo de assistência.

No Brasil, o apoio do Reino Unido ajudará a Petrobras e outras companhias petrolíferas multinacionais a explorar enormes reservas inexploradas de petróleo e gás nas suas bacias de águas profundas. A decisão surge apenas alguns dias antes de os ministros do Reino Unido se dirigirem para Paris, para participarem nas negociações internacionais sobre a alteração climática na cimeira COP21.

Um porta-voz da UKEF defendeu a decisão de ajudar a Petrobras. Ele disse que a agência efetua as devidas análises de antissuborno antes de apoiar tais projetos e, neste caso, concluíram que a empresa tinha dado “passos significantes na reforma das suas estruturas de gestão e conformidade”. O porta-voz revelou também ao jornal britânico “The Guardian” que a UKEF realizou “avaliações completas sobre o impacto ambiental” para determinar a aprovação da linha de crédito concedida à empresa brasileira e que o projeto estava em conformidade com os padrões internacionais.

Os defensores ambientais e anticorrupção, porém, atacaram o pacote de apoio à Petrobras. Doug Parr, cientista-chefe do Greenpeace do Reino Unido criticou:

— O Governo diz que já não há dinheiro para energia limpa a nível nacional, no entanto, está financiando um acordo de meio milhão de euros com uma gigante dos combustíveis fósseis envolvida num enorme escândalo de corrupção a milhares de quilômetros de distância. David Cameron acaba de se comprometer na G20 a pôr um termo aos subsídios para os combustíveis fósseis e a apoiar a energia limpa. Contudo, no país o seu Governo está fazendo precisamente o contrário.

Uma porta-voz da Corruption Watch, uma ONG sediada em Londres, disse que a decisão da UKEF de estender uma linha de crédito à Petrobras é “profundamente preocupante” dadas as investigações em curso que envolvem a empresa e seus contratantes.

— Esta abordagem puramente empresarial envia uma mensagem completamente errada sobre o quão a sério a UKEF leva a corrupção — disse.

A porta-voz disse que a Corruption Watch acredita que a agência “precisa se explicar publicamente os passos tomados para determinar de fato se houve atos corruptos envolvidos nos contratos que a Petrobras efetuou anteriormente”.

No início deste ano, o “The Guardian” denunciou que a UKEF tinha fornecido um grande empréstimo financeiro para a construção de uma grande plataforma petrolífera no Brasil, que desde então já foi identificada como um dos principais projetos envolvidos no escândalo de corrupção.

Tal como a Petrobras, a Shell é uma companhia altamente ativa nos campos de petróleo em águas profundas do Brasil. Depois de ter adquirido o grupo BG este ano, a gigante petrolífera anglo-holandesa se juntou à Petrobras como uma joint venture em vários projetos petrolíferos offshore.

Esta empréstimo mais recente faz parte de um acordo financeiro de 1,84 bilhões de euros oferecidos por agências de crédito à exportação da Áustria, Itália e Japão. Ao longo do próximo ano, a Petrobras — que viu a sua nota de crédito ser rebaixada para o nível de capital especulativo — selecionará contratos de exportação específicos que serão financiados pela linha de crédito.

O porta-voz da UKEF revelou que o acordo cumpre as políticas de risco de crédito da agência. Ele acrescentou ainda:

— O papel da UKEF é apoiar os exportadores do Reino Unido, nomeadamente nas áreas em que o mercado privado não é capaz de o fazer parcialmente ou na íntegra, e a indústria do petróleo e do gás é um dos principais empregadores do Reino Unido.

Fonte: Diário da Manhã/Este artigo foi publicado originalmente no jornal “The Guardian”, membro do Climate Publishers Network