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Petrobras recupera R$ 15 bilhões em valor de mercado


Em uma semana, a Petrobrás deu dois importantes acenos ao mercado – o inesperado reajuste de preços de combustíveis e o corte de investimentos e despesas até 2016 – numa demonstração de esforço para retomar a disciplina financeira. O resultado sobre as ações foi rápido - desde a quarta-feira, dia 30/09, a estatal ganhou R$ 15,3 bilhões em valor de mercado, segundo a consultoria Economática. No período, as ações subiram cerca de 14% na BM&FBovespa - somente na terça-feira, 06/10, a alta chegou a 5%, em média. Mas o esforço e o “senso de urgência” da diretoria não é considerado suficiente para aplacar a desconfiança sobre os indicadores da estatal.

A preocupação entre analistas ouvidos pelo Broadcast, serviço em tempo real da Agência Estado, é com a falta de clareza quanto às novas premissas de câmbio e cotação internacional de petróleo. Entre junho, quando a estatal anunciou a primeira revisão no plano de negócios, e setembro, quando encerrou o terceiro trimestre, a cotação de óleo desvalorizou 18% e o dólar subiu 28%. Para os analistas, os cortes de US$ 18 bilhões em desembolsos até 2016, equivaleriam, na verdade, a uma mera correção das premissas.

“Dado que cerca de 40% dos investimentos está vinculado ao real, a depreciação do câmbio já traz a estimativa (de orçamento) para baixo”, aponta relatório do HSBC encaminhado nesta terça-feira aos clientes. “Esperávamos mais transparência em relação às premissas para o câmbio e para o Brent e um detalhamento maior quanto ao corte de investimento. Ainda queremos saber como cada segmento será impactado”, escrevem os analistas do BTG Pactual.

O Estado apurou que, em apresentação ao Conselho de Administração, na quarta-feira, a diretoria da estatal considerou como premissa de câmbio uma média de R$ 3,80 até 2016. Para a cotação internacional, o cenário adotado seria de US$ 55,00 o barril de óleo Brent para o próximo ano. Hoje, a cotação está por volta de US$ 50,00.

Rentabilidade ameaçada. Para o HSBC, diante da incerteza quanto às premissas adotadas e da instabilidade do cenário econômico, a rentabilidade segue ameaçada. Sem grau de investimento, após ter sido rebaixada por duas agências de classificação de risco, a companhia enfrenta encarecimento dos empréstimos e dificuldade para refinanciar a dívida.

Com o petróleo em baixa, a empresa tem limitadas as opções de venda de ativos e geração de caixa com a produção. O banco aponta, como alternativa, a adoção de uma política de preços de longo prazo com garantia de defasagem positiva na venda de combustíveis - ou seja, gasolina e diesel mais caros que no mercado internacional.

Após o reajuste da semana passada, os preços de gasolina e diesel no País estão entre 7% e 13% mais caros que no exterior. A manutenção dos preços em patamar mais alto que no mercado internacional integra a estratégia da Petrobrás, apresentada na última semana ao conselho de administração. Segundo fontes ligadas à empresa, a diretoria descreveu aos conselheiros as quatro pilares adotados para recuperação da estatal - liberdade de reajuste de preços, desinvestimentos, redução de gastos e investimentos.

Da estratégia apresentada, apenas a venda de ativos ainda não deu resultados - somente dois campos foram vendidos, a US$ 25 milhões, e a venda de participações na Gaspetro está em fase final. Para 2016, com a expectativa de um cenário mais favorável para o setor, a estatal quer vender US$ 14,7 bilhões - volume “otimista”, segundo o Itaú BBA. “As condições de mercado são os desafios para atender às diretrizes em nossa opinião. Acreditamos que novos atrasos são prováveis.”

Fornecedores. A indústria fornecedora do setor de petróleo e gás natural está contrariada com a presença dominante da Petrobrás como compradora e com os efeitos da crise da estatal. E vai recorrer ao ministro de Minas e Energia, Eduardo Braga, para tentar emplacar uma série de medidas que tem o objetivo de ampliar a participação da iniciativa privada no setor. Na próxima terça-feira, 22 entidades empresariais vão ao ministro entregar uma “agenda mínima para o setor petróleo”.

O documento é assinado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), pelas federações estaduais de São Paulo, do Rio de Janeiro, de Minas Gerais, Espírito Santo, Rio Grande do Sul e Bahia, além de 14 associações de fornecedores. Na pauta de reivindicações estão temas polêmicos que dependem da presidente Dilma e do Congresso. A presidente já deixou claro que não vai mudar as regras de conteúdo local, como quer a indústria. Para que outra reivindicação seja aprovada - a de que a Petrobrás deixe de ser obrigatoriamente protagonista no pré-sal -, os parlamentares terão que vencer a resistência da base aliada do governo ao projeto do senador José Serra. “Espero que o Planalto entenda do que estamos falando, em vez de ficar tentando pegar dinheiro de tudo que é canto”, afirmou o presidente da Firjan, Eduardo Eugenio Gouvêa Vieira.

Fonte: AE