A Petrobrás lançou um plano ambicioso de corte de custos operacionais, prevendo economizar US$ 12 bilhões até 2019, mas deixou de fora da lista alguns gastos que estão gerando muitos questionamentos internamente. Além de dar uma cifra inflada em relação às projeções de redução de gastos, a companhia parece só fazer espuma. O foco do programa, que traçou 14 diretrizes básicas, deu ênfase especial em custos com cursos, treinamentos e capacitação de funcionários fora da Universidade Petrobrás, além de publicações internas, voltadas a informar aos empregados da empresa. Também botou na mira alguns itens como a restrição a viagens, o uso de carros com motorista e a compra de brindes e presentes, mas não incluiu alguns dos pontos mais criticados pelos funcionários, como patrocínios à Fórmula 1, campanhas publicitárias televisivas e o excesso de trabalhadores terceirizados. Estão cortando os palitos e deixando passar as árvores, como dizem pelos corredores da empresa. É a política de propagação do “estamos fazendo”, mas que não corta fundo na carne, espalha brasa e não prioriza o fundamental. Além disso, não atinge a cúpula da companhia, que deveria dar o exemplo para que todos os outros se motivassem a segui-lo. A questão foi amplamente notada e chegou a ser apontada nos comentários publicados na página do informativo interno da estatal:

“Infelizmente, o corte informado se reflete apenas na força de trabalho. Lamentável, pois sabemos que os gastos que efetivamente devem ser cortados continuarão existindo e sangrando o caixa da companhia”, afirmou uma funcionária da área de Exploração e Produção nas críticas à publicação.

A estatal divulgou o comunicado internamente aos funcionários nos últimos dias, indicando que a diretoria executiva tinha aprovado o plano de redução de gastos operacionais “gerenciáveis” em julho, como parte do Plano de Negócios 2015-2019, que estimou o volume total de investimentos em US$ 130 bilhões no período, quase 40% a menos do que o anterior. No documento, o gerente executivo de Desempenho Empresarial da Petrobrás, Mário Jorge da Silva (foto), reconhece que as iniciativas não vão salvar a companhia, mas tenta dar um peso maior a elas:

“A situação hoje enfrentada pela indústria, e pela Petrobrás em especial, devido à queda dos preços do petróleo, demanda esforços de toda a natureza e em todos os níveis. As ações de redução de gastos ora divulgadas não resolverão sozinhas os nossos desafios, mas são importantes para atingirmos as metas de redução de gastos, além de sinalizar à força de trabalho a necessidade de comprometimento de todos”.

A empresa fez circular o informe e abriu espaço para que os funcionários mandem dúvidas, questões e sugestões, o que vem sendo feito em larga escala, já que muitos foram críticos com os cortes seletivos. O Petronotícias traz os detalhes do plano de redução de gastos da Petrobrás e aproveita para incluir alguns dos comentários feitos pelos trabalhadores, sem mencionar seus nomes, já que as informações são de uma publicação interna da estatal.

Veja abaixo a lista de medidas anunciadas pela Petrobrás:

- Submeter à aprovação do diretor da área ou do presidente contratações de serviços de consultorias especializadas de gestão, organização e processos, e de pareceres.

- Restringir ao estritamente necessário as viagens a trabalho no Brasil e no exterior, evitando-se ainda a viagem de mais de um responsável pelo mesmo processo.

- Restringir veículos dedicados de uso exclusivo com motorista somente para o presidente e os diretores da Petrobrás Holding, da Transpetro e da Petrobrás Distribuidora.

- Determinar que veículos dedicados de uso geral sejam restritos a necessidades operacionais.

- Reduzir os gastos com vouchers para táxis.

- Reduzir horas extras gerenciáveis.

- Reduzir os gastos com treinamentos realizados fora da Universidade Petrobras.

- Reduzir a participação em eventos externos de treinamento, como congressos, seminários e cursos.

- Suspender treinamentos de PDRHE (Plano de Desenvolvimento de Recursos Humanos no Exterior), com exceção de cursos cujas inscrições já foram pagas e não seja permitido cancelamento ou reembolso.

- Suspender o ingresso de empregados em cursos de idiomas na modalidade autodesenvolvimento, mantendo até 31 de dezembro os já inscritos.

- Suspender os eventos com foco em resultados e quaisquer festas de confraternização que sejam custeados pela companhia.

- Suspender a compra, a aquisição e a distribuição de brindes.

- Suspender o Programa de Visitas para a força de trabalho.

- Suspender a impressão e a distribuição de livros, livretos e periódicos destinados à força de trabalho, estimulando o uso de mídia digital.

A repercussão entre os funcionários foi imediata e a avalanche de críticas e sugestões não parou desde então. Abaixo, publicamos algumas delas, omitindo os nomes dos trabalhadores, mas mantendo a área de atuação de cada um:

Funcionário do E&P-CPM

“O número de terceirizados nos prédios da empresa são super estimados! A quantidade de prestadores ociosos me espanta! Poderíamos atingir os mesmos resultados com metade do número que temos hj… Muitos saem p fumar e ficam 40 minutos lá fora…Há prestadores que realmente fazem um ótimo trabalho e têm comprometimento, mas infelizmente é a minoria. Aqui na recepção do EDIVEN tem uns 12 recepcionistas, mas quando se chega na recepção somente 4 ou 5 estão realmente trabalhando, é muito $$ jogado pelo ralo. Muitos estão na internet e poem até plaquinha dizendo “fechado”… absurdo total. Por que não cortam o facebook? Isso é uma fonte de ócio nos escritórios.”

Funcionário do TIC

“Vou dar ideias de boas medidas:

Reduzir gastos de 300 milhões anuais, com propaganda desnecessária, pois como time de futebol (FLA/FLU) a Petrobras está todo dia na mídia e vende tudo q produz sem precisar de propaganda ao contrário de lojas de eletrodomésticos ou supermercados.

Reduzir gastos com patrocínios de ONGs pertencentes à ricos politicos e seus parentes.

Reduzir gastos com maquinas de café…. pra que duas máquinas em cada andar do edifício senado? e outros prédios..

Restringir veículos dedicados de uso exclusivo com motorista somente para o presidente… O presidente do Uruguai andava de fusca.”

Funcionária do E&P-CPM

“Infelizmente, o corte informado se reflete apenas na força de trabalho. Lamentável, pois sabemos que os gastos que efetivamente devem ser cortados continuarão existindo e sangrando o caixa da companhia.”

Funcionária do E&P-CPM

“Entendo que a companhia tem que fazer várias restrições até para acompanhar o cenário mundial; queda de preço de barril de petróleo, nervosismo mundial diante da situação da China, entretanto todos essas reduções já estamos vivenciando a algum tempo e não vi também os cortes de patrocínio para Carnaval, festas juninas no nordeste.”

Funcionário do AB-RE

“Acho q também é hora de suspender todos os patrocinios (principalmente a Formula 1) e custos com publicidade comercial em midia de grande publico, inclusive como sinalização da verdadeira austeridade q precisamos implementar até 2019.”

Funcionário do RH

“Aguardo anciosamente o corte de 30% nos cargos de gerência, conforme divulgado pela empresa e espero a pesquisa de ambiência de 2016..( se é que não vão cortar como medida de redução de custos ).”

Funcionário do E&P-SERV

“Estes cortes e outros mais são realmente necessários e já era para ter acontecido há muito tempo. Isto não nos prejudica em nada ! Seria muito bom aproveitar esta “onda” e cortar as máquinas de café espalhadas na Petrobrás , por todo país. É muito dinheiro desperdiçado com produtos prejudiciais à nossa saúde.”

Funcionário do UO-RIO

“A impressão que passa é, como citou um colega, que não há filtro. É tudo ou nada. Agora, na época de vacas magras, é nada. É claro que se deve cortar custos não necessários, mas me impressiona ler que 6 itens de cortes referem-se à tão importante e necessária capacitação dos colaboradores. Vejo diversos itens no dia a dia que poderiam ser cortados e que não são citados na matéria. Lamentável.”

Funcionário do UO-BC

“Parabéns!!! Só acho que faltaram duas medidas imediatas na relação acima:

1- Suspender os salários e benefícios de TODOS os envolvidos na operação Lava Jato (desconsiderar se isso já foi feito).
2- Suspender a prática hipócrita de sempre achar que nós, Força de Trabalho comprometida, somos os maiores culpados pela situação atual da Companhia.”

Funcionário do ENG-E&P

“Considero as ações acima razoáveis para o momento que é de extrema delicadeza da saúde da Corporação, mas sinceramente NÃO ENTENDI PORQUE FICARAM DE FORA OS CONTRATOS MILIONÁRIOS DE PROPAGANDA NAS TV´s, NOTADAMENTE AS DO HORÁRIO NOBRE, uma vez que não temos concorrentes DE FATO.”

Funcionário do UO-RNCE

“Fazer o mais com menos é um desafio para os gestores, não abandone a galinha dos ovos de ouro que é a razão de ser da nossa empresa, no momento temos muito cacique e pouco índio para alimentar essa aldeia”

Fonte: Petronotícias