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Conselheiro da Petrobras espera que governo "não atrapalhe" nova diretoria


O sucesso do novo plano de negócios da Petrobras depende da capacidade do governo de "não atrapalhar" a nova direção da estatal. A observação do economista da FGV e conselheiro da estatal Roberto Castello Branco foi feita ontem durante o seminário Produção de Commodities e Desenvolvimento Econômico, realizado no Rio. Ele questionou a intervenção governamental no setor de óleo e gás nos últimos anos e classificou o regime de partilha como "danoso" para a Petrobras e para o Brasil.

Castello Branco falou sobre a política de preços da empresa. Ele disse que a metodologia de reajuste dos preços dos combustíveis da companhia é confidencial e que confia no empenho da diretoria em praticar a paridade de preços com o produto importado. O economista ponderou, no entanto, que o momento pode não ser favorável a reajustes.

"No momento, o consumo de gasolina está caindo. E a gasolina é muito sensível ao preço. E a resposta é muito rápida. Se aumentar o preço da gasolina, [o consumidor] põe etanol. Além do mais estamos vivendo uma recessão", disse a jornalistas, após apresentação no seminário.

O economista citou o controle dos preços dos combustíveis como um dos principais erros estratégicos do governo na governança da estatal nos últimos anos, assim como a política de conteúdo local.

"A Petrobras se viu num problema de ter de transferir recursos via conteúdo local mínimo para a indústria fornecedora. Isso criou as condições viáveis para formação do cartel e corrupção", disse Castello Branco, que questionou também a escolha do governo pelo regime de partilha no pré-sal.

Segundo o conselheiro, o modelo é custoso para a União, ao elevar os gatos com a criação de mais uma estatal, a Pré-sal Petróleo SA. E a obrigatoriedade de participação mínima de 30% da Petrobras no pré-sal é inviável.

"O regime de partilha é danoso aos interesses da Petrobras e do Brasil. O sistema de leilão com pagamento em óleo não maximiza receita para o Estado, porque é um pagamento que se dá ao longo do tempo", avalia.

Castello Branco destacou, ainda, que, para cumprir seu plano de negócios, a Petrobras terá que ser disciplinada. "Os US$ 130 bilhões de investimentos representam um corte de US$ 90 bilhões. E para cumprir essa meta mais modesta, ela terá que ser extremamente disciplinada, muito rigorosa. E o Estado não atrapalhar. Simplesmente isso", disse.

O economista também comentou sobre as reuniões de conselho. Disse que vê a atual composição mais independente da intervenção do governo e que "o ambiente é bom". "Não sinto hoje nenhuma interferência. As reuniões estão muito boas. Há entusiasmo dos conselheiros e da diretoria para recuperar a companhia", afirmou.

Questionado sobre o programa de venda de ativos planejado pela estatal, Castello Branco disse que a venda de fatia da Gaspetro "ainda não foi definida" pelo conselho e que, embora o plano seja ambicioso, sente confiança na execução das vendas.

Fonte: Valor Econômico