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Entenda os motivos para a queda do preço do petróleo


A variação negativa no valor do óleo, que chegou aos 60%, é influenciada pela produção americana, por conflitos geopolíticos e por fortes economias em baixa

O valor do barril de petróleo vem caindo drasticamente em 2015. Há menos de um ano era comercializado acima da faixa dos US$ 100 - com um pico, em junho de 2014, de US$ 115. Em seis meses, o barril brent desvalorizou cerca de 60%. Na sexta-feira, (16/01), desceu aos US$ 46,25.

Recentemente, apenas a crise internacional de 2008 ocasionou quedas mais abruptas. As leis de oferta e demanda explicam de forma superficial o atual cenário, mas não são suficientes para entendê-lo mais profundamente.

Como qualquer commodity, sua valorização ou desvalorização é sensível aos mais diversos motivos, que nem sempre estão interligados. Na questão do óleo, ainda há o agravante das incessantes disputas políticas. Entenda o porquê destas seguidas quedas no preço do ouro negro.

Oferta e demanda
"Petróleo é uma commodity, e como toda commodity ela varia muito ao longo do tempo, dependendo das circunstâncias e dos fatores que a oferta e a demanda condicionam, além de fatores políticos", afirma Jorge Jatobá, diretor da consultoria econômica Ceplan. A demanda, de fato, caiu. Potências mundiais da Ásia e da Europa viram suas economias crescer em ritmo mais lento e cauteloso, diminuindo assim o consumo do petróleo. Para o economista da RC Consultorias Thiago Biscuola, "a demanda não cresceu da forma que era esperada".

Tal fato não seria sentido de forma tão drástica, não fosse o aumento da produção mundial, encabeçado pelos americanos. "Produção de petróleo demanda investimentos de maturação mais longa. O produtor, quando via o preço em 2011 a US$ 100, até US$ 140 o barril, fez grandes investimentos para ampliar a oferta, ampliar a produção", afirma Biscuola. Os Estados Unidos, país que mais consome petróleo no mundo, investiram em extração local no pós-crise e chega hoje – influenciado pelo xisto, fonte alternativa e mais cara de se obter petróleo – a incríveis 9,1 milhões de barris diários. "A oferta, nos últimos dois anos, quase que triplicou em função do xisto. Isso aumenta a oferta nominal", diz Jatobá.
 
Opep
A Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) também tem sua parcela de influência na queda dos preços – ou, pelo menos, em sua não-estabilização. Um dos países líderes da organização, a Arábia Saudita decidiu manter a produção nos atuais patamares, em vez de frear a oferta vinda de seus países-membros, o que seria a saída mais lógica. "Esse preço mais baixo afeta, sim, grandes membros da Opep, como Venezuela, Rússia e Irã, países que dependem mais diretamente dessas receitas. Eles vão continuar pressionando a Arábia Saudita (para diminuir a produção)", afirma Biscuola.

Os sauditas afirmam ter grandes reservas, capazes de se manter com valores ainda mais baixos que os atuais. "Há também interesse talvez de ver até onde esses produtores americanos podem chegar, até que custo", diz o economista. A estratégia dos sauditas pode ser enfraquecer produções mais caras, como a do xisto americano, e até mesmo os investimentos em fontes alternativas europeias. "Com o petróleo acima dos US$ 100 nos últimos anos, houve um incentivo a fontes alternativas. Se você consegue manter esse preço do petróleo mais baixo, esses tipos de fontes, que são mais caras, acabam perdendo atratividade", afirma Biscuola.

Conflitos
Não menos importante, a instabilidade política de alguns grandes produtores de petróleo também é capaz de influenciar na oferta do óleo. A crise entre Rússia e Ucrânia e, principalmente, a expansão do Estado Islâmico em regiões produtoras de Iraque e Síria alertam o planeta e colocam dúvidas quanto ao futuro destas instalações. A incerteza sobre a produção nessas regiões eleva as expectativas sobre outras fontes de energia. Para continuar como opção atraente, o preço do petróleo acaba desvalorizado.

Para Jorge Jatobá, no entanto, o cenário não surpreende. "Isso é um ciclo. Acompanhando a história do valor do petróleo, você vê que ele varia muito ao longo do tempo. Embora haja uma tendência de uma maior queda pelo aumento da oferta em decorrência da produção pelo xisto", diz. Apesar de consequências negativas para produtores com extração de alto custo, como o Brasil e seu pré-sal, a queda do preço do petróleo pode ter reflexos positivos, de acordo com Jatobá. "Há muito subsídio voltado para o consumo de combustíveis fósseis. A grande vantagem dessa queda no preço do petróleo é a sua diminuição. Isso poupa trilhões de dólares no mundo inteiro, inclusive no Brasil".

Fonte: Época