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O eldorado de Macaé sofre com as incertezas do setor brasileiro de petróleo


A capital do petróleo brasileiro vive um momento de agruras. Com diversos tipos de empresas instaladas há anos para atender ao segmento, Macaé passa por uma situação complicada, com demissões frequentes ocorrendo, projetos mudando de mãos, trabalhadores deixando de receber seus direitos e a prefeitura buscando soluções junto à Petrobrás, mas poucas perspectivas de melhora aparecem no horizonte. A crise que atinge a estatal brasileira, não só em termos políticos, mas também financeiros, se alastrou pelo país e o município que serve de base de apoio para a maior parte das atividades da companhia é um dos mais afetados no cenário nacional. A reverberação desses problemas deve se estender para 2015, quando a cidade vai sediar um dos grandes eventos da indústria de petróleo nacional, a Brasil Offshore, com indícios de que estará esvaziada no próximo ano.

As demissões em massa começaram ainda no fim de 2013 e não pararam ao longo deste ano, com casos emblemáticos de empresas que não conseguiram manter seus contratos com a Petrobrás e acabaram gerando um efeito em cadeia na região. A questão não se restringe às empreiteiras, mas passa também por empresas de projetos, serviços, fornecedores e subfornecedores, além de gerar um grande impacto nas atividades adjacentes, que se beneficiavam do enorme fluxo de pessoas e negócios pela cidade.

O município fica de frente para a Bacia de Campos, que ainda responde por mais de 80% da produção de petróleo nacional, e há muitos anos vinha se congratulando dos avanços que o segmento proporcionava. Para se ter uma ideia, o PIB per capita na cidade chegou a R$ 59.116 em 2011 – última data em que o IBGE disponibiliza a informação –, enquanto no resto do Brasil a média era de R$ 21.252 no mesmo ano.

As obras são constantes e, apesar de o trânsito no local ser muito criticado, pela falta de planejamento, há diversos canteiros nas rodovias próximas ampliando o acesso à cidade. O fluxo de gente e de dinheiro cresceu proporcionalmente ao ritmo do avanço das atividades da Petrobrás na região e o pré-sal, nos últimos anos, vinha como a promessa de uma bonança ainda maior.

Muitos foram os empresários que mudaram o foco de suas empresas ou deram mais destaque ao setor de óleo e gás, sendo atraídos pelo canto da sereia que se propagou como o vento. De fato, há muitas perspectivas de negócios para o futuro, em função do plano estratégico da Petrobrás, que prevê um crescimento vertiginoso da produção, mas a realidade atual e para os próximos meses vai no sentido oposto a isso.

Desses tantos que apostaram no setor, muitos andam arrependidos e é cada vez mais comum ouvir entre diretores de grandes empresas a palavra “diversificar”. O significado é simples: no meio do tiroteio e da falta de novos contratos na indústria de petróleo, as empresas estão se virando para outros lados, buscando a sobrevivência em outras partes.

Em Macaé, o efeito cascata se reflete em outras áreas, como o comércio local e o setor de hotelaria. Um exemplo disso foi o mês de outubro, que costumava ser um período de alta das vendas pelo dia das crianças e pela proximidade com o natal, mas acabou marcado por reuniões de comerciários preocupados com seus negócios. As demissões em massa e o clima de fim de festa assustaram os empreendedores, que precisaram lançar mão de ações especiais em busca de uma melhora nas vendas.

A rede hoteleira, que sempre nadou de braçada por ali, com empreendimentos subindo constantemente, pena para tentar manter sua posição como a segunda maior do estado. A queda na ocupação dos quartos levou muitos a começarem a apostar em outras vertentes além da executiva. O turismo de natureza e aventura, bem menos procurado por ali quando comparado a outras áreas do Rio, passou a ser uma aposta.

No momento atual, a prefeitura da cidade vem travando uma nova batalha com a Petrobrás, em relação à licitação do novo terminal de apoio para as bacias de Campos e do Espírito Santo. O prefeito, Aluízio dos Santos Júnior (foto), critica a estatal por ter inserido uma sobretaxa de 17% caso o empreendimento seja feito em Macaé, enquanto que para a região do Açu não houve taxa adicionada. A licitação foi embargada pela justiça, mas as negociações paralelas continuam. O Petronotícias tentou entrar em contato com Aluízío nesta sexta (28), mas não conseguimos encontra-lo na sede da prefeitura. Seus assistentes informaram que ele estava fora nos últimos dois dias, tratando de reuniões externas, principalmente com a Petrobrás.

A busca por uma solução não vem só das autoridades, mas as próprias empresas têm buscado discutir formas de melhorar a situação. A Petrobrás, neste meio do caminho, anda em um momento extremamente complicado. Além de todas as denúncias de corrupção e das obras atrasadas, se vê numa encruzilhada sobre que decisões tomar para os novos contratos. O resultado é que quase nada é assinado e essa crise continua se estendendo por todos os elos da cadeia.

Outro ponto importante de ser ressaltado é o avanço da produção no pré-sal, que hoje já representa entre 20% e 25% do óleo extraído pela companhia no Brasil. Esse percentual vai subir cada vez mais nos próximos anos, chegando a 52% no topo das previsões anunciadas pela própria Petrobrás. Até o momento, a maior parte dos blocos explorados na província ficam na Bacia de Santos, o que deve tirar um pouco o protagonismo de Macaé e dar força à cidade paulista.

Sabendo disso, com a produção da Bacia de Campos em declínio, a cidade precisará se planejar muito cuidadosamente para os anos que virão. Além de retomar o ciclo virtuoso com a grande quantidade de oportunidades que ainda estão no horizonte, a administração local precisa começar a criar estruturas de base pensando em uma economia mais forte no futuro, mais independente, e, para usar a palavra da moda entre os empresários, “diversificada”.

Fonte: Petro Notícias