Notícias

Com Pessoa, UTC virou 'sócia' da Petrobras


Apontado em relatório da Polícia Federal na Operação Lava-Jato como elo entre as empresas e o doleiro Alberto Yousseff, o engenheiro Ricardo Ribeiro Pessoa é o controlador da UTC - com 56% de participação acionária. Seu grupo cresceu sobretudo nos últimos anos, ao acompanhar o multibilionário plano de investimentos da Petrobras.

Preso na carceragem da PF em Curitiba, Pessoa foi mencionado em meio às investigações como o coordenador de um grupo de empreiteiras que agia para superfaturar contratos da estatal. Só seu grupo, a UTC, tem contratos que somam R$ 14,6 bilhões em investimentos com a Petrobras - segundo relatório da PF.

Pessoa é baiano de Salvador e formado em Engenharia Civil pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). Ex-executivo da OAS, Pessoa comprou - em conjunto com três engenheiros (João de Teive e Argollo, Francisco Assis Rocha e Luiz Alberto Torres) - a UTC do próprio grupo em 1996. Eles assumiram a empresa, renegociaram dívidas e fizeram a companhia sobreviver inclusive com projetos menores nos primeiros anos.

Depois, com a melhora da economia, empreendimentos maiores começaram a aparecer, como a montagem da plataforma P-32 e a instalação da Usina Nuclear Angra 2. Mas foi no fim dos anos 2000, durante o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que começou a era dourada da UTC - graças à explosão de investimentos da Petrobras a partir de meados daquela década. Os contratos com a estatal nesse período chegaram a representar mais de 60% do faturamento da UTC Engenharia. Os desembolsos da estatal beneficiaram várias empresas, mas a UTC cresceu ao menos 32% mais que as maiores companhias do setor de 2000 a 2012 - como a própria empresa admite.

O impulso nos negócios favoreceu a diversificação. Em 2010, a UTC comprou a Constran - empreiteira de obras pesadas. Comandada no primeiro ano pelo ex-ministro de infraestrutura do governo Collor João Santana, a Constran mudou de patamar: seu faturamento mais que dobrou de R$ 235 milhões em 2009 para R$ 596 milhões em 2010.

Os contratos públicos do país deram um impulso à companhia. Dados colhidos pelo Valor no Portal da Transparência do governo federal mostram que a Constran multiplicou por oito sua participação nos contratos do Planalto sob a liderança da UTC: o volume recebido do governo passou de R$ 52 milhões em 2009 para R$ 450 milhões em 2010. Naquele ano, a Constran figurou - ainda de acordo com o Portal da Transparência - como a quinta colocada na lista de empresas que mais receberam recursos do governo (pódio encabeçado por outra construtora emergente, a Delta). Nos anos seguintes, os valores do governo recebidos pela Constran recuaram para patamares inferiores a R$ 200 milhões, fazendo com que ela deixasse a lista dos maiores fornecedores de contratos federais.

Apesar de construção e engenharia industrial continuarem sendo os principais negócios, atualmente o grupo UTC - sociedade anônima de capital fechado - se diversificou em diferentes setores, como infraestrutura, energia, mercado imobiliário e óleo e gás. É acionista, por exemplo, do aeroporto de Viracopos desde 2012. A UTC também tem 25% da Enseada Indústria Naval, estaleiro que tem objetivo de produzir sondas de perfuração para a Petrobras. Em 2013, abriu sua unidade voltada a negócios de defesa - para o qual procura o primeiro contrato. Tem hoje mais de 20 subsidiárias, com escritórios no Peru e nos Estados Unidos. Registrou receita líquida de R$ 4 bilhões em 2013. O resultado operacional foi de R$ 303 milhões. E o lucro líquido ficou em R$ 106 milhões.

A assessoria informou que não encontrou um porta-voz da UTC para comentar o assunto.

Fonte: Valor Econômico