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Sete Brasil busca US$ 652 milhões para obras de sondas


A Sete Brasil está enfrentando dificuldades para assinar contratos de financiamento de longo prazo com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e outras instituições e, assim, garantir a construção, dentro dos prazos, de 29 sondas de perfuração de poços de petróleo para a Petrobras em investimento estimado em mais de US$ 25 bilhões. Ao mesmo tempo, a Sete Brasil está com problemas para rolar dívidas de curto prazo. E precisa levantar até novembro US$ 652 milhões para não interromper os pagamentos aos cinco estaleiros contratados, no Brasil, para fazer as sondas, como mostram documentos obtidos pelo Valor.

A Sete Brasil estuda três alternativas para sair dessa situação: destravar um financiamento com o Banco do Brasil (BB) de US$ 333 milhões, que resolveria os pagamentos em outubro, mas ainda faltaria dinheiro para o mês seguinte; novo aporte dos acionistas, que já investiram R$ 8,3 bilhões no projeto e resistem a colocar mais recursos; ou interromper o pagamento aos estaleiros, o que causaria dano à imagem da companhia e poderia atrasar o cronograma de entrega de sondas à Petrobras.

A situação da Sete Brasil foi discutida, ontem, no Rio, em uma reunião entre a diretoria da empresa e representantes dos acionistas. São seus sócios a Petrobras, Petros, Funcef, Previ e Valia; BTG Pactual, Santander e Bradesco, o FI-FGTS, o fundo EIG e os investidores Luce Drilling e Lakeshore Partners. Fonte ligada a um dos acionistas disse que a Sete Brasil está com os compromissos em dia e que as dificuldades enfrentadas para fechar os financiamentos de longo prazo se devem a uma espécie de "queda-de-braço" com algumas das empresas que vão operar as sondas de perfuração. Com essa discussão, os operadores estariam tentando garantir melhores condições comerciais.

Ao ser criada, a Sete Brasil montou uma estrutura complexa em que criou uma Sociedade de Propósito Específico (SPE) para cada sonda. Operadores privados têm participação minoritária, de 15% na maioria dos casos, em 21 das 29 sondas. Três operadores - Odebrecht Óleo e Gas (OOG), Queiroz Galvão Óleo e Gás (QGOG) e Petroserv - pediram garantias adicionais da Sete Brasil para continuar com as negociações em torno de um instrumento legal conhecido como AMA (Asset Maintenance Agreement). Trata-se de um contrato sob a lei de Nova York a ser celebrado entre a entidade estrangeira proprietária da sonda e o seu responsável operador, para fins de estabelecer regras e diretrizes para manutenção do equipamento.

Os três operadores também querem diluir suas participações nas respectivas SPEs das sondas de 15% para 6,5%. Outras duas operadoras, OAS e Etesco, tinham manifestado interesse em diluir suas fatias nas SPEs para 5% e demandaram carta de fiança da Sete para não perder o direito a uma "put option". Essa put dá direito à recompra, pela Sete Brasil, das ações adquiridas pelo consórcio em caso de divergências entre os sócios. A fonte disse que a opção para os operadores é: "Ficam como estão ou saem do projeto." Na reunião de ontem, OAS e Etesco retiraram o pleito de reduzir sua participação nos projetos para 5%, disse a fonte.

Outros dois operadores estão mais alinhados ao pensamento da Sete Brasil. São eles Seadrill e Odjfell, cujos contratos podem ser assinados até o fim do mês. A companhia tem demonstrado preocupação com o impacto da notícia de que os operadores das sondas desejam reduzir sua participação no empreendimento. Isso poderia levar financiadores a pedir esclarecimentos e reuniões, o que atrasaria os cronogramas. Em análise para os acionistas, a empresa fez um diagnóstico de que as premissas de financiamento sênior foram "extremamente otimistas". Houve ainda a assinatura de um acordo de acionistas com os sócios-operadores em condições "desfavoráveis" e a estrutura tributária foi "subestimada". Como resultado, houve deterioração do retorno esperado do projeto.

A análise foi interpretada por fontes como uma crítica indireta à administração anterior da companhia, capitaneada por João Carlos Ferraz, um ex-funcionário da Petrobras que deixou a Sete Brasil em maio deste ano sendo substituído por Luiz Eduardo Carneiro, ex-presidente da OGX (atual OGPar). A Sete Brasil tem a expectativa de que a primeira liberação do BNDES, de US$ 2 bilhões, e de US$ 1,7 bilhão em créditos da Caixa, via Financiamento à Infraestrutura e ao Financiamento (Finisa), ocorra no fim do ano. O total de empréstimos do BNDES para a Sete Brasil chega a US$ 8,5 bilhões para um total de 21 sondas. Contudo, a Petrobras negocia há nove meses a assinatura de um documento com o BNDES que permitirá a liberação de empréstimo, mas ambos discordam sobre a data de cessão dos contratos de afretamento, que serviriam de garantia para o negócio. Procurado, o BNDES disse que não se pronunciaria sobre o assunto, assim como a Sete Brasil.

Fonte: Valor Econômico