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Cientistas relacionam alta no número de terremotos à extração de petróleo


Cientistas dizem que o recente aumento nas ocorrências de terremotos de pequena magnitude no Estado americano de Oklahoma provavelmente é resultado da alocação subterrânea de grande quantidade de águas residuais geradas pela extração de petróleo e gás.

Tremores costumavam ser raros em Oklahoma. Antes de 2008, o Estado registrou apenas um terremoto por ano de magnitude 3 ou maior. Neste ano, já ocorreram 230 terremotos dessa magnitude, mais que o número registrado na Califórnia.

"É um crescimento muito significativo", diz Katie Keranen, sismóloga da Universidade Cornell e principal autora de um estudo sobre os tremores de Oklahoma, publicado na quinta-feira passada na revista "Science".

As descobertas se somam a um crescente volume de evidências de que vários tipos de atividades humanas de grande escala — da mineração de carvão à construção de barragens — podem ajudar a provocar terremotos. Na maioria dos casos, os processos geológicos são complexos e pouco compreendidos.

No centro e no leste dos Estados Unidos, o número de terremotos saltou nos últimos anos, de acordo com o Serviço Geológico dos Estados Unidos. A agência afirma que mais de 300 tremores acima da magnitude 3.0 ocorreram em três anos, entre 2010 e 2012, ante uma média anual de 21 para o período entre 1967 e 2000. Esses terremotos foram grandes o suficiente para serem sentidos, mas raramente causaram danos.

Ao analisar dados de terremotos a partir de 1970, a agência verificou que a alta dos abalos sísmicos coincide com a injeção de águas residuais em vários lugares, incluindo os Estados do Texas, Colorado, Arkansas, Ohio e Oklahoma. Ela planeja divulgar um mapa de risco de terremotos provocados pelo homem, conhecidos como terremotos induzidos.

Keranen e seus colegas analisaram mais de perto a atividade sísmica em Oklahoma. Na extração de petróleo e gás, uma grande quantidade de água não potável, que fica abaixo da superfície, precisa ser eliminada de alguma forma. Ela é normalmente colocada em poços de cerca de dois quilômetros no subsolo.

À medida que essa água se acumula, a pressão aumenta e começa a se expandir para fora dos poços. As descobertas de Keranen foram baseadas em um modelo dessas pressões. "Descobrimos que o aumento da pressão no local dos tremores era similar à magnitude da transferência de estresse que pode levar a um tremor secundário" em um terremoto natural, diz.

Os pesquisadores também descobriram que quatro dos poços com maior volume em Oklahoma são capazes de provocar cerca de 20% dos recentes terremotos no centro dos EUA. Eles também descobriram que tais "terremotos induzidos" podem potencialmente ocorrer a mais de 30 quilômetros do poço.

Os riscos dos terremotos induzidos podem variar de acordo com a geologia. Durante a produção de petróleo na Califórnia, muito da água é reinjetada na área onde é extraída. Na Califórnia, diz Tupper Hull, porta-voz da Associação de Petróleo dos Estados do Oeste, "isso não está alterando as pressões geológicas e é altamente improvável que se crie as condições que as pessoas em outros Estados estão vivenciando".

Em 2009, cientistas nos EUA e na China publicaram relatórios examinando a possibilidade de a construção de uma gigantesca barragem ter provocado a atividade sísmica que ajudou a desencadear o terremoto na província chinesa de Sichuan que, em 2008, causou a morte de quase 90.000 pessoas. A barragem foi construída a 500 metros da linha de falha do terremoto. Entretanto, cientistas não relacionaram de forma conclusiva a barragem ao terremoto.

Um estudo publicado em maio na revista "Nature" sugeriu que a extração de água por um longo tempo provocou o afundamento do Vale de San Joaquin, na Califórnia, ao mesmo tempo em que levantou a crosta terrestre nas áreas ao redor. Esses movimentos, segundo o estudo, foram suficientes para alterar o estresse da falha de San Andreas, próxima ao local, e pode explicar o aumento de pequenos terremotos na região.

Processo semelhante aconteceu no município de Irecê, na Bahia. A região reúne cerca de 39.000 famílias de agricultores, de acordo com a Cooperativa da Agricultura Familiar do Território de Irecê Ltda, a Coafti. A agricultura depende da irrigação e mais de 10 mil poços foram abertos para extração de água. A situação se agravou quando empresas de fertilizantes começaram a arrendar esses poços para retirar água para uso industrial. Segundo estudo do Instituto de Pesquisas Tecnológicas de São Paulo, o IPT, a extração excessiva da água acabou provocando sua escassez. O IPT afirma que isso está ligado ao rebaixamento das terras próximas, o que provocou rachaduras nas ruas, casas e propriedades rurais do município, principalmente na localidade vizinha de Lapão.

Fonte: WSJ